sexta-feira, 25 de dezembro de 2009

É diferente a insegurança vista de dentro

Escrevo no seguimento do artigo de 15 de Março de 2009 do PÚBLICO intitulado "Os bairros de Lisboa onde mandam as armas" [págs. 20-21].

Moro num dos bairros focados nesse artigo. E, confesso a minha estupefacção, moro no bairro mais perigoso de Lisboa: o Casalinho da Ajuda. Ora, segundo o polícia entrevistado, não identificado, neste mesmo bairro o tiroteio é muito. Segundo este mesmo polícia, não identificado, volto a dizer, no Casalinho da Ajuda, passo a citar, "é raro o dia em que a polícia não é lá chamada para tentar identificar alguém; são tiros de toda a espécie e feitio, de caçadeira, de pistola, até de pistola-metrelhadora..."

Então eu pergunto a este polícia porque é que eu, moradora do bairro, não vejo polícia nenhuma no bairro. Nem quando chego do trabalho, nem quando saio de manhã, nem aos fins-de-semana, nem nas minhas férias. Onde pára a polícia que não policia um bairro tão cheio de armas? Como é que os moradores têm ainda armas, de tantas vezes que a polícia, segundo o agente entrevistado, foi lá chamada? Porque, analisemos, se até há tiros de metralhadora como é possível o Ministério da Administração Interna não ter intervindo?

A ideia que dá este PSP entrevistado é que tudo se resume a problemas raciais porque nos bairros em foco na notícia se encontram negros e ciganos. Mas neste bairro específico não moram só ciganos nem negros. A grande maioria, atrevo-me a dizer 90% da população, não é negra nem cigana, é caucasiana. E neste bairro há gente muito honesta, trabalhadora, esforçada, empenhada, correcta, que também são ciganos e negros. Gente que sai para trabalhar todos os dias, que são contribuintes neste país e nesta Lisboa onde se insere este bairro muito complicado.

Sejamos sensatos na análise dos factores. Não é por serem negros ou ciganos. São pessoas culturalmente diferentes a quem se atribuiu alojamento, em forma de despejo de problemas para o Estado, sem nunca serem ensinados a viver em comunidade diferente da deles. A quem é dado um rendimento mínimo garantido que funciona como um emprego sem ser nada exigido em troca. E aqui não são só os ciganos e os negros que o recebem.

O que faz falta nestes bairros são assistentes sociais activos, que se empenhem no acompanhamento destas famílias, destes jovens, para os formar para serem responsáveis, activos e úteis na sociedade.

Isabel Lopes

No dia 1 de Março de 2009, o PÚBLICO publicou uma notícia intitulada "Crime violento desertifica pelo medo as noites de Setúbal" [págs. 18-19].

Sendo habitante em Setúbal e não conseguindo descortinar nenhuma relação entre a notícia e a realidade que constato, gostaria de convidar V. Exa. a vir almoçar a Setúbal, terra onde se come um bom peixe assado, como é difícil encontrar noutro lado, ou o típico choco frito.

Teria o maior gosto em lhe oferecer a referida refeição e propor-lhe de seguida um pequeno passeio pela baixa e por alguns dos bairros mais signficativos, incluindo a própria mal-afamada Bela Vista, para que pudesse constatar directamente que nada do que foi escrito na referida notícia corresponde à verdade.

Se preferir jantar, terei todo o gosto em o levar ainda à zona principal dos bares de Setúbal, onde poderá ver centenas ou milhares de jovens em convívio nas ruas.

Em lado nenhum, lhe garanto, terá oportunidade de verificar "os seus habitantes com receio de sair à rua".

Obviamente, a zona comercial da baixa de Setúbal tem tendência a esvaziar-se de pessoas a partir das 19 horas, quando o comércio fecha, como acontece em Lisboa e em qualquer outra cidade de Portugal ou da restante Europa, pois esta é uma característica comum à quase totalidade das cidades desenvolvidas.

As zonas históricas estão desabitadas, vivendo apenas do comércio, com lojas no rés-do-chão e armazéns nos andares superiores, pelo que à noite, depois do comércio encerrar as portas, as ruas ficam desertas. Isto não está relacionado com a insegurança nem é característica exclusiva de Setúbal.

Assim, pergunto qual terá sido o objectivo da publicação de texto tão fabricado de falsidades?

Pedro Brinca

No PÚBLICO de 17 de Julho 2008, na pág. 3, um artigo de José Bento Amaro tem a ilustrá-lo uma imagem de meia página [mapa da região de Lisboa] que contém uma “inverdade” que pela sua gravidade deve merecer correcção e pedido de desculpas aos leitores.

O título da imagem é "Os bairros mais problemáticos da região de Lisboa e da Margem Sul do Tejo". São identificados [no mapa] mais de uma dezena de bairros em diversos concelhos. Em relação ao concelho de Sintra, pode ler-se: ”Cacém (toda a cidade)”. Toda a cidade? Um imenso aglomerado de bairros problemáticos?

A fonte da imagem não é suficientemente elucidativa ("PSP; PÚBLICO"). O critério ou critérios adoptados para as respectivas identificações como “problemáticos” não são também especificados. No corpo da notícia o Cacém não é referido. Mas tamanho fenómeno (toda a cidade é "problemática") deveria merecer pelo menos um parágrafo.

Habito no Cacém há umas dezenas de anos. Tenho assim assistido às transformações profundas (boas e más) que ocorrem e ocorreram na agora cidade. A classificação encontrada por José Bento Amaro só pode vir de alguém profundamente ignorante desta realidade suburbana. Faria bem em informar-se para informar.

Elsa Fontainha

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