sexta-feira, 17 de julho de 2009

As costas largas da imprensa

No dia 20 de Junho, o PÚBLICO publicou com grande destaque na primeira página um manifesto com o título "PAREM. E ESTUDEM", em que 28 economistas alertaram o país para a situação de gravíssimo endividamento em que nos encontramos, e aconselharam a interrupção, por um periodo, dos grandes projectos públicas planeados pelo Governo. Referiram-se no entanto a eles de um modo muito genérico e sem os analisar caso a caso.

Dias depois surgiu outro manifesto, e depois um outro, em que outros economistas, contestando os primeiros, diziam, essencialmente, que a suspensão dos investimentos seria uma decisão altamente inconveniente.

O PÚBLICO, embora com menos destaque, noticiou e comentou estes dois manifestos que foram, inclusivé, objecto alguma polémica no interior do jornal.

Muitos leitores queixaram-se ao Provedor do modo desigual como os dois manifestos tinham sido tratados pelo jornal, e estas queixas foram analisadas no seu texto publicado no dia 5 de Julho sob o título "O combate dos economistas".

O Provedor do PÚBLICO, ao escrever este texto, actuou, sem dívida, no âmbito das suas funções, mas escapou-lhe, a meu ver, uma questão fundamental.

O papel de um provedor não deve ser, a meu ver, como disse, preocupar-se unicamente com o tratamente equilibrado dos textos publicados no jornal, mas, também, e talvez sobretudo, preocupar-se com os textos não publicados e que seriam importantes para esclarecer os leitores.

Ora eu, no dia 22 de Junho, na sequência do manifesto publicado no dia 20, enviei ao PÚBLICO o email que agora lhe retransmito, com um texto a que pus o nome " INFORMEM-SE POR FAVOR!".

Neste momento peço-lhe que, com um mínimo de atenção, se debruce sobre este meu texto e, depois, intimamente ou nas páginas do PÚBLICO, responda à questão: "Os leitores do jornal teriam tido interesse em ler este texto e o país ficaria mais validamente esclarecido se ele fosse publicado?"

O texto: INFORMEM-SE POR FAVOR! pode ser considerado dirigido aos autores dos três manifestos e, como tal, continua actual.

As informações nele referidas foram discutidas numa dezena de encontros promovidos pela Sociedade de Geografia de Lisboa e pela ADFER sobre grandes obras públicas, nomeadamente: a Terceira Travessia Ferroviária do Tejo (TTT) e a sua integração na futura rede ferroviária portuguesa de bitola europeia, as ligações ferroviárias a Espanha e o problema das mercadorias, o fecho da Golada, a construção do novo Aeroporto de Lisboa e outros.

A generalidade dos economistas que assinaram os citados manifestos (há algumas raríssimas excepções) nada sabe sobre elas, e a imprensa diária quase não se referiu a estes encontros.

Penso que, um dia, quando as escolas de jornalismo estudarem o papel que teve neste periodo em que vivemos a imprensa sobre a vida do país, descobrirão muitas lacunas. Descobrirão, por exemplo, que os "combates de economistas" resultam, numa larga medida, de uma insuficiente informação dos próprios economistas, da qual, numa larga medida, a própria imprensa é responsável.

Felizmente há, actualmente, meios de divulgação da informação que nos tornam menos dependentes do que noutras épocas da imprensa tradicional, que continua, no entanto, a ter um papel fundamental e pela qual podemos continuar a aferir a liberdade de um país. Por isso continuarei sempre a ler os jornais.

António Brotas

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