terça-feira, 17 de junho de 2008

Amy Winehouse ainda mexe

A propósito ainda da cobertura do concerto de Amy Winehouse pelo PÚBLICO, que motivou uma crónica do provedor e réplicas do jornalista:

AS COISAS DO JORNALISMO
(Porque elas, às vezes, divertem-nos a valer!)

ROCK IN RIO – Lisboa, 30 de Maio de 2008
P2- Público de 1 de Junho
Artigos de um senhor chamado Vítor Belanciano em que relata o primeiro dia do Rock in Rio e se dedica sobretudo ao fenómeno Winehouse.

Depois da leitura destes artigos concluí, a propósito deste senhor, o seguinte:

A- Habilitações:
1- Alta formação musical.
2- Pós-graduação em leituras a propósito do fenómeno Amy Winehouse e assistência a concertos da mesma.
3- Mestrado em psicopatologias com origem no sucesso imediato de carreiras extremamente mediáticas.
4- Doutoramento em análise comportamental (em palco) de artistas sob efeito do álcool, de narcóticos, de psicotrópicos, de substâncias ilícitas, de drogas duras ou leves, de químicos e cogumelos…, e de tudo isto, misturado e servido num copo alto em forma de cocktail.
5- Investigação contínua sobre os efeitos alucinogénios de alguns cogumelos. Efeitos estes que provocam o encontro com fantasmas e uma dedicação especial, no seu trabalho, à magia em geral.

B- Experiência de estrada.
1- Já viu Amy Winehouse ao vivo, muito, mas muito antes do Rock in Rio. Teria ela uns 17 anos… e variadíssimas vezes.
2- Esteve no Rock in Rio e sentiu a energia do público, misturou-se com a populaça.
3- Esteve no Rock in Rio e, misturado com a populaça, ouviu, e deu-nos a conhecer, os comentários sobre Amy e a sua estada em palco.
4- Já conhece Amy tão bem e tem um domínio tão completo e aprofundado da língua inglesa que, misturado com a populaça, ali bem no meio, conseguiu perceber todas as coisas que a menina tentou dizer. Relacionado com os pontos 3 e 4 das Habilitações, estas tentativas de falar são para este senhor “uma tentativa de interagir com o público”. Sim, porque quem é o cantor ou artista que não tenta interagir com o público, sobretudo quando dá espectáculos ao vivo?

C- Os gostos e os ódios do Vítor:
1- Gosta de espectáculos de Dança Contemporânea/ballet ou de Teatro de vanguarda, cuja ocupação da sala não ultrapasse 1/3 da sua capacidade.
2- Odeia os espectáculos do Filipe La Féria, além disso, nunca viu nenhum nem sabe que existem~.
3- Adora a diferença, o difícil, o não amado em qualquer forma de arte.
4- Odeia centros comerciais.
5- Gosta de escrever e de fantasiar; cria metáforas que não explana.
6- Odeia brasileiros que se mexem muito, dançam, gritam, abanam as ancas e batem o pé no chão.
7- Adriana Calcanhoto ou Chico, ainda vá, agora aqueles popularuchos é que não.
8- Gosta do pessoal de Chelas, tipo Sam the Kid, intuindo, nós daqui, que tem uma propensão para aceitar, apreciar, manifestar-se a favor, dar graxa, lamber as botas das minorias étnicas, o que o torna politicamente correcto.
9- Tem pena que não haja mais momentos que atribuam sentido às coisas da música. Expressão brilhante e de grande valor semântico.
10- Gostou verdadeiramente de Sofia e dos Cool Hipnoise. Gosta do alternativo, no fundo. E a Sofia? Chegou a vê-la ou contaram-lhe da sua subida ao palco? Era gira?

D- Alguns comentários aos seus comentários.

Amy, a acossada?
Perseguida, por quem? Atormentada, por quem?
Eu sei que vivemos um tempo vazio de heróis, despido de ícones, mas pretender fazer desta menina um deles é ridículo.
Ela persegue-se si própria e atormenta-se a si própria.
Onde está o seu exemplo de irreverência? Nas letras que canta? Isso não basta, sobretudo quando aparece em palco sem condições para lá estar.
Ou será que a sua irreverência está no facto de aparecer naquele estado em palco? Para isso, bastava escolher um entre as dezenas de arrumadores que pairam por Lisboa, na condição de tropeçar, de cambalear, levar as mãos entrapadas, um lenço a passar constantemente pelo nariz (não imaginamos porquê…).
A miséria humana grassa com tanta insistência por esse mundo fora, por que razão ainda vêm as Amys e os media transformarem-nas em heroínas?
Tem uma voz magnífica, é verdade.

Personalidade Complexa?
O que tem de complexo um rapariga de 24 anos a quem a fama imediata deu a volta à cabeça, a quem os media perseguem, que resolve depender de álcool e das drogas; que gosta de ser presa, de transgredir?
O que tem isto a ver com personalidade complexa?
O que fez ela até agora para acharmos sequer que ela tem personalidade?
Tem uma voz magnífica, é verdade.

Todos projectamos fantasias nela?
Figura… para a qual todos projectam os seus fantasmas?
Através dela, virando o espelho percebemos quais são os nossos demónios e fantasmas?
Há que ter dó!
Projectamos as nossas fantasias ou os nossos fantasmas? É que fantasia tem, na sua essência, uma conotação positiva e fantasma, antes pelo contrário.
Percebemos quais são os nossos demónios e fantasmas, sim. Os meus são o desejo de nunca ver filho meu, sobrinho meu ou filho de amigos em tal estado deprimente. Aliás, de não ver nenhum jovem adulto de 24 anos a fazer tal figura.
Tem uma voz magnífica, é verdade.

Quem já a viu ao vivo anteriormente, como nós, sabe que é sempre desajeitada… como se nesse gesto se pudesse esconder dos olhares da multidão.
Desde já, parabenizo, felicito o autor pelo domínio literário e pela magnifica comparação que faz no final deste período.
Não, nunca a tinha visto ao vivo, mas a escolha do adjectivo "desajeitada", transmite uma falsa ideia: todos os seus movimentos e não movimentos eram somente sinal de que se encontrava sob o efeito do álcool e de drogas. Não tem rigorosamente nada a ver com ser-se desajeitado, nem com o facto de se querer esconder da multidão. São reacções normais de quem está a caminho de perder alguma dignidade que ainda lhe reste.
Tem uma voz magnífica, é verdade.

NOTA: Na semana seguinte, no Provedor do Leitor, apareceram comentários relativos ao artigo deste senhor. Sem grande jeito, tentou desculpar-se e fazer-se entender. Entendi uma coisa: é que mais de metade do que disse ter vivido, ouvido e visto foi inventado. Assim, contrariamente ao que deu a entender - afinal ele não é jornalista, é romancista - não esteve perto de ninguém, não ouviu ninguém, não esteve no meio da populaça.

E quanto à Sofia?
E o que foi feito da Sofia?
Sofia, se me estiveres a ouvir, sentir, o que seja, entra em contacto…

E em 2010, ansiosa, espero por mais um Rock in Rio, desejando que o Vítor não romanceie, não ficcione e se limite a dar informações válidas e verdadeiras, sem exagerar nas opiniões.
E já agora, o que é que ele escreve? Crónicas? Críticas? Artigos? Noticias? Reportagens? É só para saber se tem direito a opinar tanto…

See you in 2010!

Paula Coimbra Gaspar

Sem comentários: