quarta-feira, 11 de junho de 2008

Ainda o caso Amy Winehouse

Nova troca de correspondência, hoje, entre Vítor Belanciano e o provedor, a propósito da última crónica deste e dos seus desenvolvimentos:

Só ontem, tarde, tive oportunidade de ver o seu blogue. Pelo tom, pareceu-me dar o tema por encerrado. Não creio que esteja. A minha questão é simples: depois do que lhe transmiti sobre o processo de elaboração da fotolegenda, ainda acha que o que foi feito é “jornalismo prospectivo?”

Sou, provavelmente, o jornalista e crítico que mais reflectiu sobre o “fenómeno” Amy Winehouse em Portugal. Fi-lo a partir dos mais diversos ângulos. Já tinha visto anteriormente espectáculos seus. Tinha perfeita consciência do grau de imprevisibilidade das suas actuações. Acha que iria arriscar conclusões antecipadas?

O que existiu, sim, foi um processo de elaboração da fotolegenda, que abriu espaço para múltiplas leituras. Em nenhum lugar me parece caber a hipótese de “jornalismo prospectivo”. Parece-me que teria toda a relevância os leitores perceberem que um processo de trabalho, realizado em condições longe das ideais, como já explicitei, concretizado por mais do que uma pessoa, com resultados que podem induzir a várias leituras, não corresponde necessariamente ao caso de um jornalista a querer brincar aos deuses, antecipando-se à realidade.

É isso que está em questão. Não são avaliações de valor que se possam fazer sobre a cantora, o concerto e as reacções do público. Sobre isso escrevi no dia 1 de Junho, de forma que considero ser equilibrada e correcta, explicitando diversos ângulos, sem teses especulativas.

Já agora, permita-me que lhe diga, com o máximo de respeito, enquanto alguém que se interessa pelos assuntos da cultura popular e a sua relação com os media, que o acontecimento tinha imenso material de reflexão.

Deixo apenas duas pistas, muito óbvias, mesmo sabendo que estou a fugir ao assunto: as relações diversas que o público estabelece com uma “celebridade” do tipo da cantora – não é por acaso que o seu disco voltou a subir esta semana ao 2ª lugar do top e a sua biografia se vendeu muito mais depois do concerto, apesar das fragilidades do mesmo – e a relação que suportes (TV, internet e imprensa escrita) com características diferentes, ao nível da velocidade, da proximidade e muitas outras, podem e devem ter, ao nível da abordagem, com um acontecimento deste tipo. Porque, em fundo, é isso que também está aqui em causa.

Mas isso dava uma longa conversa. Deixo-lhe, apenas, a questão que enuncio no final primeiro parágrafo.

Vítor Belanciano

Considero de facto o assunto encerrado. Falo em "jornalismo prospectivo" porque, a meu ver, a fotolegenda criou a ideia de o concerto ter corrido de uma certa forma que não veio a verificar-se. Concluí depois que o Vítor Belanciano não terá sido a única pessoa responsável por isso (talvez nem sequer o máximo responsável, não sei), mas guiei-me pela assinatura existente na legenda. Não ponho em causa o seu conhecimento do percurso de Amy Winehouse, mas apenas um cálculo distorcido do que se passaria na Bela Vista, que não tem nada a ver com o acompanhamento anteriormente feito da carreira da cantora.

Joaquim Vieira

Pensava que eram evidentes, desde a minha primeira resposta, a forma e as condições em que foi produzida a fotolegenda, apesar de ter estranhado que na sua crónica tenha surgido a frase “escreveu o jornalista”.

Evidentemente que a fotolegenda pode ter várias interpretações – tem um título informativo, uma legenda passível de várias leituras e uma foto que algumas pessoas, inclusive, acharam “desadequada” – e revela até alguns sinais contraditórios. Mas é, precisamente, por ser passível de ter várias leituras que nunca poderia ser “jornalismo prospectivo.”

“Jornalismo prospectivo” implica uma ideia clara. Uma intencionalidade precisa. Coisa que, evidentemente, não existe.

Como é que é possível comparar este caso com o “caso” Hugo Chávez?

Vítor Belanciano

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